- O quê que eu fiz? Eu não
acredito. Como é que eu pude me distrair tanto.
Meus pensamentos começam a tomar
um ar preocupado.
- Será que fazia tempo que eu
tinha parado?
- Não, eles devem estar bem
perto.
Levanto-me e vou seguindo a
trilha gritando o nome de minhas amigas e do Josué, mas não ouço reposta. Como
é que eu fui fazer isso? Eu sei que sou inconsequente, mas me perder numa
trilha desconhecida... E porque que elas não notaram que eu não estava com elas.
Reposta fácil. Porque estavam encantadas com o gostosão, com a última coca-cola
do deserto, no momento estou com tanta raiva e com tanto medo que aquele
sentimento pelo senhor deus grego se foi, se ele estivesse aqui eu iria espancá-lo
por ter feito isso. – Mas isso o quê? Ter distraído minhas amigas distraídas
com a sua beleza? Ai que raiva! Estou andando e chutando todas as pedras que
vejo pelo caminho, pra ver se passa minha raiva. Onde estão elas, onde estão
elas? Repito como se isso pudesse trazê-las para me resgatar. Então ouço meu
nome.
- Isa! Isa!
Graças a Deus! Alguém me encontrou, mas quem? Deve ser o Josué!
- Isa, pare onde estiver.
- Parei. Grito alto.
- Isa? Tá me escutando?
- Estou. Grito ainda mais alto.
- Você está bem?
Dessa vez o som parece estar mais
perto.
- Estou. Grito
- Isa!
Mais perto...
- Oi!
Ai... Não... Acho que essa voz é
a do senhor bonitão que alguns minutos atrás eu queria matar, mais que agora
está me deixando nervosa de novo.
- Ah... Te achei.
Fico calada... Como se quisesse
encontrar palavras pra dizer alguma coisa. Tenho vontade de pular no pescoço
dele e agradecer, dizer que ele é meu herói, mas isso não seria muito sensato,
e minha boca está travada, sem conseguir proferir nem mesmo um simples oi dessa
vez.
- Você está bem?
Continuo parada.
- Você esta pálida.
Não sei se estou pálida porque
estava com medo que demorassem a me achar ou se é por que ele me achou, ou... Preciso
responder! Mais uma vez... Vamos... Palavras,
palavras onde vocês estão?
- Estou bem!
- Mais você esta da cor de um
papel.
- Estava com medo. - Falo sem
pensar, e continuo:
- Cadê a Lêle e a Bia?
- Estão com o Josué, ele as levou
pro hotel e eu, vim buscar você.
Eu me irrito e digo quase
gritando:
- Ele é o guia, não era ele quem
deveria ter vindo? E agora como é que eu vou sair daqui?
Chuto mais uma pedra em expressão
de raiva como se meu tom de voz não tivesse sido claro.
- Eu vim lhe fazer um favor! De
nada.
Entendo o tom irônico, e quase
chego a ficar comovida, mais meu medo ainda fala mais alto, que meu repentino
encanto por ele.
- Quem me garante que eu vou
achar o caminho de volta agora? Falo tanto pra ele quanto pra mim.
- Eu. Eu garanto! - E agora a
expressão quase de raiva.
- Eu conheço essa trilha como a
palma das minhas mãos.
- Desculpe! É que estou nervosa.
Não sei como minhas amigas puderam não prestar atenção em mim e deixar eu me
perder.
- Eu não sei como você, pode não
prestar atenção e se afastar de nós. – Fala ele.
Ele dá total ênfase a palavra
VOCÊ quando fala, o que me faz pensar em que ele está jogando toda a culpa em
mim, ao passo que eu posso até ter errado em me distrair, mas todo mundo fez o
mesmo. Mas vou tentar ser cordial afinal ele voltou e eu preciso sair daqui.
- Eu me distraí olhando para a
borboleta e pensei que tivesse sido só alguns segundos, mas quando olhei não vi
mais ninguém.
Ele ri. Talvez porque eu esteja
falando como quem confessa ser uma estúpida.
- As borboletas também me
distraem.
Agora quem ri sou eu.
- Posso saber o motivo da risada?
- Desculpa.
- Desculpo, mas posso saber o
motivo?
- Nada.
- Nada, sempre pode ser muitas
coisas. Diga. - Ele insistiu.
Tento formular a resposta de uma
maneira que não mostre que ele me deixou sem graça desde que o vi pela primeira
vez, mas depois, dane-se, eu nunca mais vou vê-lo mesmo.
- É que a primeira vez que te vi,
lá no hotel, no dia em que estava chovendo, você estava de moto e parecia um
bad boy, foi engraçado você dizer que borboletas distraem.
E continuo rindo como se tivesse
contado uma piada.
- E um bad boy, não pode gostar
de borboletas? Ele fala quase que segurando o riso.
- É um pouco antagônico não acha?
- Não.
Ele fica calado por alguns
instantes e continua.
- Eu posso gostar de várias
coisas.
- Claro, desculpe, eu não quis
dizer que você não podia. É que eu nunca tinha visto um bad boy gostar de
borboleta.
- Eu não sei que negócio é esse
de bad boy. Eu não sou bad boy, aliás, pode-se dizer que eu sou um good boy.
- Eu começo a rir e a conversa
agora soa mais descontraída.
- Não foi uma ofensa o que eu
quis dizer é só que... Eu paro, procurando palavras...
- É só que?
- Deixa pra lá. Estamos perto?
- De onde?
- Do hotel claro.
- talvez?
Eu começo a ficar com medo.
- Não entendi o talvez.
- Talvez estejamos perto.
- Como assim talvez? Você disse
que sabia o caminho.
- E sei.
- E onde se encaixa o talvez?
- Talvez eu seja um bad boy, e
não vá deixar você chegar ao seu destino.
Ele fala entre risos, e eu me acalmo.
- Será que você é realmente um
maníaco? Estou começando a ficar com medo. Falo também sorrindo.
- Estou pensando em me tornar.
- O quê?
Nem reparei que minha voz saiu como um grito.
- Estou brincando! É só que...
Ele para no meio da frase.
- É só que... - Repito.
- Na verdade eu queria mesmo ter
ficado só com você.
Estou ficando assustada, afinal
eu não o conheço, será que é seguro está com um desconhecido, no meio do nada? Digo,
eu não sei como sair daqui. Por outro lado eu também queria ficar só com ele,
mas, não nessas condições. Com medo, angustiada e completamente só. Seguimos a
trilha, e agora eu emudeci de vez, o que falar? Porque ele queria ficar só
comigo? E essas brincadeiras, se é que é brincadeira. Caminho uns dez minutos
em silêncio, talvez ele tenha percebido que me assustou, ou talvez esteja
procurando a melhor hora de me atacar! Eu poderia correr e gritar, pedir
socorro mais quem iria me ajudar? E, contudo, eu não sei o caminho de volta, e
acho a julgar pelo seu físico e pelo modo que diz que conhece a trilha, de
maneira ou de outra ele me pegaria se assim quisesse. Ele rompe o silêncio.
- Você é sempre assim tão calada?
- Não.
- Suas amigas são bem...
- Tagarelas? – Pergunto.
- Eu sei.
- E tento controlar um risinho.
- Você não quer mesmo conversar?
- Não sei.
- Você está cansada?
- Não muito.
- Se tiver eu posso te levar no
colo.
- Não consigo conter a risada.
- Me levar no colo?
Riu ainda mais, não acreditando
no que ele acabou de falar.
- Você fica muito bonita quando
sorri.
Não sei o que responder, acho que
minhas bochechas estão ficando vermelha, e minhas pernas estão de novo bambas,
não sei se é medo dele ou do que ele me faz sentir.
- Obrigado.
- Pelo quê?
- Por me acompanhar, pelo elogio
e por ter tido o trabalho de devolver meu telefone.
- Não foi trabalho nenhum. E se
eu soubesse que você ficaria assustada comigo, não teria insistido com Josué
para vir.
- Eduardo, desculpe se eu estou sendo
um pouco ríspida com você, mas você tem que admitir que estar no meio do nada
com um completo desconhecido é no mínimo assustador, principalmente depois que
ele diz que queria ficar só com você.
Neste momento estou caminhando um
passo à frente dele. Ele segura meu pulso mais uma vez, me parando em todos os
sentidos, parou meu caminhar, parou meu coração, minha respiração e tudo
mais... A situação deveria ser de medo, mas quando sinto o seu toque não é medo
o que sinto, é uma sensação que eu não
sei explicar.
- Isa, eu realmente não queria
que você tivesse se assustado comigo, eu só quis dizer que ontem, quando
cheguei ao hotel, e vi você me interessei prontamente, e até tentei iniciar uma
conversa, mas, você não fala muito.
Como de costume, desde a hora em
que pus meus olhos nele, minha língua tem tido um torpor que não é típico dela,
minhas pernas bambas, meu coração está pulsando de forma que se eu abrir a boca
é capaz de ele saltar pra fora, como assim se interessou, e porque ele ainda
não soltou minha mão? Não consigo falar. Digo, eu sou uma mulher e a coisa mais
natural do mundo é uma mulher falar, mais do que se deve, então porque eu não
consigo? Por que esse homem tira meus sentidos?
- Isa você ouviu o que eu falei?
- Sim.
Acho que ele se cansou dessa
minha incapacidade de pronunciar palavras e dispara como se tivesse tomado o
lugar de Elena, que é a mais tagarela de todas.
- Veja bem, eu não vim aqui por
que eu sou bandido, nem muito menos maníaco, e nem bad boy, eu vim aqui porque eu
sou um homem que se sentiu atraído por uma mulher e resolveu não perder a
oportunidade de conhecê-la. Se você estiver preocupada quanto aos meus
antecedentes, fique tranquila, quando chegarmos ao hotel eu lhe dou uma folha
corrida, e o que mais precisar.
Dito isso ele dá um sorrisinho, eu
fico ainda mais nervosa, agora eu tenho certeza de que a vermelhidão da minha
bochecha é visível assim como o tremor das minhas mãos. Mal acredito que esse
homem lindo está interessado em mim. Enquanto eu estou quase desmaiando com o
que eu acabei de ouvir, ele se aproxima e pega minhas mãos com delicadeza.
- Nós estamos a três passos do
fim do da trilha. Então não precisa mais ficar receosa, mas, antes de sair eu
queria te pedir uma coisa.
- Sim. - Respondo timidamente.
- Posso te dar um abraço?
O que é isso, que história é essa
de abraço, que pedido mais descabido. Mas quem no mundo dispensaria um abraço
de um homem lindo.
- Pode.
Ele se aproxima lentamente, na
verdade não sei se está lento mesmo ou se é o efeito visual que ele tem causado
em mim. Eu vou ficando tonta, minhas pernas vão desfalecendo meu coração vai
acelerando, minhas mãos sequer pararam de tremer; tenho a impressão de que ele
vai perceber assim que me abraçar. Droga! Não tenho tempo de me controlar, pois
ele já está me abraçando, e minha nossa... Que abraço! Ele me abraça de forma
que uma mão toca minha cintura, e outra toca minhas costas, não é forte que
sufoque, nem leve que eu não sinta, é um abraço de homem, seguro, que inspira
confiança, que me faz desejar não sair dali, e embora eu ainda esteja com medo
que ele esteja vendo a traição de meu coração que parece bateria de escola de
samba no meio do carnaval, eu não quero me afastar e retribuo abraçando-o. Sua
cabeça reclina em meu ombro, de forma que a sua respiração calma e lenta é
sentida em meu pescoço.
Minha nossa que sensação boa! Essa
respiração em meu pescoço está me dando vertigens, sinto um arrepio do começo
da espinha até a nuca, tentando me esforçar para não deixar transparecer, e ele
vai se afastando, encerrando o abraço, tirando a cabeça recostada em meus
ombros lentamente, de forma que por frações de segundos sua boca fica a
centímetros da minha, ele poderia facilmente me beijar, pois já não estou com
medo. Acho até que estou um pouco excitada! Ele não o faz, e afasta-se
naturalmente, como se aquele tivesse sido o abraço mais casual de todos os
tempos. O abraço de dois amigos.
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